segunda-feira, 30 de abril de 2007

Cantinho brasileiro Ciber -C/Salvador





Cantinho Brasileiro

CIBERENTREVISTA





Carlos Coelho


Para: O Castanheirense
Att. António Manuel Valadas Bebiano Carreira
De:
Carlos Manuel dos Santos Coelho
São Paulo - Brasil
E-mail - carlos.coelho@estadao.com.br


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CIBERENTREVISTAS
Entrevista com Salvador da Silva Tomaz, aposentado, castanheirense residente no Rio de Janeiro.
E-Mail: salvadortomaz@aol.com
salvadortomaz@terra.com.br
Meu nome é: Salvador da Silva Tomaz, sou natural de Sarzedas do Vasco, concelho de Castanheira de Pera, filho de Victorino Tomaz e Dialina Jorge da Silva, já falecidos. Casei com Ortelina dos Santos Diniz Tomaz ("Tinita") , também natural da Castanheira, em Abril de 1953. Ela era filha de Manuel Diniz e Maria Custódia dos Santos, também naturais de Castanheira de Pera. Seu avô José Tomas, mais conhecido como José da Natária, morava naquela casa encostada com a do Américo Alfaiate. Minha esposa veio para cá juntamente comigo, tendo o nosso casamento se realizado antes do embarque. Ela veio a falecer aqui no Brasil em Maio de 1998.
Salvador Tomaz, que lembranças tem de Castanheira de Pêra?
Muitas e boas, especialmente dos amigos com quem convivi na minha infância, entre eles Júlio da Piedade Henriques, Joaquim Correia Neves (Joaquim do Singral), Eduardo Lidório, e tantos outros que já não se encontram entre nós.
Que história interessante da sua infância em Castanheira de Pêra? Eu e o Joaquim do Singral (que foi genro do Américo Alfaiate) tivemos uma barraca de vender louças na praça da Castanheira que funcionava a princípio aos domingos, mas que depois foi transferida para os sábados. Era uma distracção muito divertida. Como nós trabalhámos na Fábrica Ceppas dos Esconhais, deixávamos a tomar conta, o Pai do Joaquim e meu irmão Manuel (nessa época com 12 anos) Isso seria o princípio para que no futuro viéssemos a ser comerciantes, mas o destino não quis, porque logo depois vim para o Brasil, continuando como empregado, até à minha aposentadoria.
Recordo também com saudade a minha convivência com seu irmão Eduardo: Foi um grande amigo que tive lá na Castanheira, assim como seu Pai. Do Júlio da Piedade Henriques, com quem trabalhei na Agência Comercial de Representações, de propriedade do Sr. Eduardo Silva (Meu Professor). Lembro do Janeca e do Cursino e tantos outros com quem convivi. José Côvado, um grande amigo. Sebastião Rato e tantos outros que agora minha memória nem lembra mais. José das Bruxas, Chico Pataco, etc., etc.
Porque Manuel Alves Ceppas não quis se radicar no Brasil igual aos irmãos?
Creio que foi por achar melhor dar continuidade à obra de seu Pai, Manuel Antunes Ceppas, relativamente à Fábrica dos Esconhais e também na área da política, onde ocupou diversas vezes a Presidência da Câmara Municipal da Castanheira.
O que acha da Guerra?
O pior possível. Tenho em minha memória os horrores da segunda guerra mundial iniciada em 1939, quando eu tinha 13 para 14 anos. Nessa época eu trabalhava no comércio em Lisboa (Mercearia) e para se conseguir as mercadorias que eram negociadas, a gente tinha que passar noites inteiras nas filas. Tudo que se comprava, especialmente géneros alimentícios, era através de senhas, cuja distribuição era controlada pelo governo. Lá em Castanheira de Pera tinha um departamento na Câmara Municipal, chamado "Comissão Reguladora dos Abastecimentos", na qual eu trabalhei, sob orientação do nosso inesquecível Eduardo Silva. Isto foi por volta de 1945, quando abandonei a carreira de comércio em Lisboa, que naquela época era muito árdua por causa das consequência da guerra. Portugal não entrou na guerra mas por ser um aliado da Inglaterra tinha que colaborar, enviando para lá tudo que os ingleses necessitavam, deixando o nosso povo sofrer com a falta desses produtos. Havia falta de tudo, não só de géneros alimentícios, como de outros produtos. A gasolina era substituída por gasogénio (Um gerador de gaz., utilizando carvão, instalado na traseiras dos automóveis, mas seu funcionamento em relação à gasolina era o pior possível). Então por tudo isso é que eu acho que uma terceira guerra vai ser um verdadeiro desastre, com consequências drásticas para o povo.
O que acha do Governo LULA?
Gostaria que ele fizesse um bom governo. Mas por enquanto ainda não nos mostrou o que é capaz de fazer... a inflação está começando a dar ares de um futuro duvidoso.
Qual a sua opinião da colónia Castanheirense no Brasil?
Na cidade em que resido (Petrópolis, estado do Rio de Janeiro) tem uma grande colónia de Portugueses. porém, Castanheirense, que eu saiba, só eu. No Rio de Janeiro tivemos a Família Ceppas, com um grande agregado, mas que infelizmente a maioria já não está nesta vida.
António Ceppas?
Foi um grande empresário, que junto com seu irmão Franklin Ceppas dirigiram a rede de lojas das "Casas José Silva" espalhadas não só pelo Rio de Janeiro, como também por São Paulo, Belo Horizonte, e outras cidades. Com o seu falecimento, e a direcção da empresa entregue aos descendentes, o grupo veio a sofrer alterações, cujo resultado foi o encerramento de uma grande parte das lojas. Não posso deixar de falar também de seu irmão João Ceppas, que apesar de ter dedicado seu trabalho a outra empresa, foi uma grande figura como empresário.
Meu padrinho Manuel Alves Ceppas Filho, como foi a vida dele no Brasil e na intimidade?
O seu nome era Manuel Barreto Bebiano Ceppas e na intimidade era tratado de "Necas". Veio para o Brasil em 1952, administrar uma fábrica de tecidos em Além Paraíba, Estado de Minas Gerais (Companhia Industrial Além Paraíba), junto com seus primos Alberto Ceppas de Carvalho e Manuel Barreto, (irmão do Sr. José Barreto) cujos maiores accionistas eram a Família Ceppas. Por volta de 1970 houve uma fusão da Cia Industrial Além Paraíba com o grupo Dona Isabel de Petrópolis, RJ, sendo o "Necas" transferido para Petrópolis, como Director do Grupo. Mais tarde o Grupo veio a sofrer uma intervenção do Banco do Brasil, que nomeou nova directoria. O "Necas" ficou algum tempo efectuando vendas dos produtos das empresas do Sr. José Barreto. Em Abril de 1976 ocorreu o seu falecimento. Ele era casado com D. Carmen Perácio de Freitas Ceppas, ainda viva. Pai de duas filhas, Maria Cristina, morando actualmente no Maranhão, já tendo sido acessora de Roseana Sarney, quando Governadora do Estado. E a outra Ana Maria, exercendo actualmente suas actividades no Rio de Janeiro.
O que me diz Do Visconde Nova Granada?
José Alves Barreto o ultimo dono da Fábrica de fósforos Nova Granada? Não o conheci pessoalmente o que lamento. Mas através do "Necas" obtinha as maiores referências a seu respeito, pelo que o classifico como uma grande personalidade. Meu sogro (Manuel Diniz, que também era da Castanheira), enquanto esteve cá no Brasil trabalhou na Fábrica de Fósforos, sempre que conversávamos a seu respeito também o considerava um grande homem. Meu sogro foi a Portugal para buscar a Família, mas acabou por ser convencido a ficar por lá, tendo-se dedicado ao comércio em Torres Novas.
Seu Pai quem é?
Meu Pai chamava-se Victorino Tomaz, era encarregado de obras, tendo dedicado a maior parte de sua vida como colaborador do Sr. Manuel Alves Ceppas. Uma grande parte da construção da Fábrica dos Esconhais foi administrada por ele. Inclusive a Casa da Criança da Castanheira (obra do Dr. Bissaya Barreto), teve uma grande parte executada com sua supervisão. O seu falecimento ocorreu em Dezembro de 1983, um mês após o falecimento de minha mãe.
Sua Mãe quem é?
O nome de minha mãe era Dialina Jorge da Silva, também natural das Sarzedas do Vasco, tendo falecido em Novembro de 1983.
Qual é o seu ramo de actividade?
Actualmente aposentado (m/ idade 77 anos). Minha actividade foi dedicada a colaborador do seu padrinho (Necas), enquanto ele foi vivo, não só na Fábrica de Além Paraíba (MG), como posteriormente na Fábrica Dona Isabel em Petrópolis. Após o falecimento do "Necas", em 07 de Abril de 1976, prossegui como empregado da Fábrica Dona Isabel, aqui em Petrópolis, até à minha aposentadoria em Junho de 1995. Como a minha vinda para o Brasil, em Maio de 1953, foi providenciada pela Família Ceppas (eu trabalha lá na Fábrica Ceppas, nos Esconhais), sempre pretendi ficar ligado ao Necas, não procurando ser comerciante, como tantos patrícios nossos, que assim conseguiram um futuro melhor. Enfim a nossa vida é assim mesmo. O nosso futuro é traçado por Deus,
O que lhe diz Castanheira de Pêra?
Um lugar do qual temos as melhores recordações. Sempre que tenho oportunidade recomendo sua visita aos meus amigos que vão passear a Portugal.
Foi a Castanheira de Pêra recentemente? Se não foi vá porque está muito linda.
A última visita que fiz a Castanheira foi em Outubro de 1994. Minha esperança está viva para um dia poder recitar aqueles versos que recentemente lhe enviei, cujo final é:
"Espero um dia a hora de regressar à terra que me viu nascer e que abandonei, mas não foi por mal, e um dia gritarei bem alto, já regressei, já estou em Portugal"
Mas eu estou sempre a par dos acontecimentos na Castanheira, não só pelo nosso O Castanheirense, como também através de minha família (Tenho uma irmã e esposo morando nas Sarzedas e um irmão e esposa morando em Lisboa, além de sobrinhos).
O que acha dos descendentes de portugueses no Brasil?
Eles se consideram Portugueses, como nós, pelo menos é essa a experiência que eu tenho de meu filho e parentes que possuo no Rio de Janeiro, descendentes do Sr. Danilo Tomás, que foi filho do Sr. José Tomás, mais conhecido na Castanheira como José da Natária, conforme já me referi anteriormente.
Que recordação tem do Esconhais?
Muito boas. Trabalhei na Fábrica Ceppas de Janeiro de 1946 até quando vim para o Brasil em Abril de l953. A convivência com Snr. Ceppas e sua Família, especialmente sua esposa D. Delmira foi óptima. O mesmo com Sr. Fausto Ceppas, D. Alda e Dr. Campos. Trabalhei lá sob orientação do Sr. Eduardo Silva foi um grande mestre, me tendo proporcionou grandes conhecimentos. Tive um grande colega: O Joaquim Correia Neves, mais conhecido como Joaquim do Singral. Sr. José Ermida que comprou um automóvel e que me usava como seu motorista.
Quantos nomes de Castanheira de Pêra têm ligado à Beneficência Portuguesa do Rio de Janeiro?
Dentro de meu conhecimento, António Ceppas e Franklin Ceppas.
Na sua opinião porque a Fábrica Ceppas em Castanheira de Pêra não teve seguidores?
Os seguidores seriam o "Necas" e seu irmão Fausto Ceppas. O "Necas " veio para o Brasil, tendo o Fausto ficado na Fábrica seu Pai. Entretanto, estabeleceu-se a crise na indústria de lanifícios na Castanheira, que obrigou o encerramento de suas actividades, como aconteceu com uma grande parte das Fábricas da Castanheira.
A Casa José Silva onde eu fui empregado de 1956 a 1958, não teve seguidores?
Com o falecimento dos irmãos António Ceppas e Franklin Ceppas, os seus sucessores mudaram os rumos do seu destino, cujo fim foi praticamente sua extinção. é de lamentar que uma rede de lojas daquele porte tenha se extinguido.
Diga alguma coisa sobre o Brasil *Celeiro do Mundo onde tanta gente passa fome*?
Não dá para agente entender que um País como é o Brasil esteja nesta situação. Está faltando um bom governo. Vamos ver se o Lula consegue vencer essa batalha.
10/03/2003


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