quarta-feira, 29 de outubro de 2008

04 de Julho de 1914



Castanheira de Pera
Feriado Municipal de Castanheira de Pera foi assinalado
Foi assinalado a 4 de Julho, o 91.º aniversário da fundação do concelho de Castanheira de Pera.
Remetendo-nos um pouco para a origem da data feriado municipal, segundo uma nota de imprensa da autarquia, foi precisamente nesta data do ano de 1914 que a, então, freguesia de São Domingos de Castanheira, em conjunto com a do Coentral, formaram o actual concelho.
Um processo longo de mais de 30 anos, desde que esta região da Ribeira de Pera se tornara o segundo maior centro industrial de lanifícios do país, logo a seguir à Covilhã, e por consequência a freguesia mais rica do concelho de Pedrógão Grande, só por si geradora de cerca de 50% dos proveitos deste município.
Em contrapartida o investimento municipal no actual concelho era diminuto, situação que nem a eleição de castanheirenses para a presidência da Câmara de Pedrógão Grande, como Albino Inácio Rosa, pai do Professor Bissaya Barreto, ou António Alves Bebiano, Visconde de Castanheira de Pera, conseguiu alterar.
Um processo penoso, e tortuoso, que se arrastou nas Cortes do Reino durante décadas, contando naturalmente com a oposição de Pedrógão Grande, terra de tradições nobiliárquicas bem mais antigas do que a região que lutava pela sua autonomia administrativa. Jacinto Nunes, por Pedrógão, João Bebiano, por Castanheira de Pera, ambos deputados às Cortes, travaram nesta Câmara duelos retóricos e de influências, que invariavelmente pendiam para o lado de Pedrógão.
A rivalidade entre as duas terras era visível, e por diversas vezes a violência a transformou em conflito, tanto mais que, num complicado e abortado processo político, envolvendo a aspiração de Figueiró dos Vinhos a ser sede de Comarca, e Castanheira a ser concelho, o concelho de Pedrógão chega a ser extinto para ser integrado no de Figueiró (1895-1898).
Com a implantação da República em 1910 o equilíbrio de forças é alterado. Em renhidas eleições municipais, a lista de Castanheira encabeçada por António Alexandre Alves Correia, com o apoio da freguesia de Vila Facaia, consegue em 1913 ganhar a Câmara de Pedrógão por 3 votos!
"Conquistada a Câmara, estavam abertas as portas para a autonomia municipal. Tanto mais que se contava com os apoios dos deputados Vitorino Godinho e Bissaya Barreto, dos senadores Dr. Abílio Barreto e António Maria da Silva Barreto e o Dr. Augusto Baeta das Neves Barreto, Director Geral de Assistência Pública. Vitorino Godinho, aliás pai dos Drs. Vitorino e José Magalhães Godinho, havia de ser o autor do projecto-lei nº 47-A…" ( Kalidás Barreto, in Monografia ). Este projecto deu lugar à Lei nº 203, aprovada no Parlamento em Maio de 1914, e publicada no Diário de Governo nº 99, de 17 de Junho, que criava o concelho de Castanheira de Pera, destacando de Pedrógão Grande esta freguesia e a do Coentral. Entretanto, um ilustre castanheirense, o Visconde de Castanheira de Pera, e um dos maiores lutadores pela autonomia administrativa não chega a ver o seu sonho concretizado, falecendo em 1911.
Em 4 de Julho de 1914, no meio de enormes festejos, era oficialmente inaugurado o novo concelho, tendo como primeiro presidente da Câmara Municipal o Dr. Eduardo Pereira da Silva Correia.
Sobre a criação do concelho, escreveu o Dr. Manuel Diniz Henriques no número 1 do jornal O Ribeira de Pera, o primeiro jornal do concelho, de 10 de Maio de 1914, 4 dias depois de ter chegado a notícia da aprovação pelo Parlamento da Lei que criava o novo município:
..." Do Parlamento da República Portuguesa, saiu já a sentença que decretou a maioridade dos povos que assentam ao nascente da Serra da Lousã e formam a região conhecida pelo nome de Ribeira de Pera.
É uma grande verdade que a linguagem humana não tem termos que possam traduzir certos estados de alma, e muito menos traduzi-los no papel....A Castanheira foi uma escrava aviltada que, quando ao de leve queria protestar contra a sua desgraça, o menos que lhe acontecia era ser amarrada para ser espancada como uma fera.
Viva a liberdade dos povos da Ribeira de Pera!
Viva o concelho de Castanheira de Pera!
Viva a República Portuguesa!
Viva o Parlamento Português!"
E assim, todos os dia 4 do mês de Julho, feriado municipal desde que este tipo de feriado foi instituído, os castanheirenses, independentemente das suas convicções políticas ou religiosas, do seu estatuto social ou económico, se reúnem em homenagem ao seu concelho e a todos que com o seu trabalho e espírito lutador o tornaram realidade.

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